Wednesday, November 12, 2014

13.



Qual o futuro da Educação? Desde o início de 2014 esta pergunta passeia pela minha mente. Não que eu nunca a tenha feito antes, mas este ano, em especial, foi a pergunta que norteou a minha trajetória neste programa de pós-graduação e na minha vida profissional.

Segundo o suplemento especial Escolha a Escola do seu Filho, do jornal Correio Braziliense de 25 de outubro de 2014, em maio de 2015, representantes de vários países vão se reunir no Fórum Mundial da Educação, um evento organizado pela UNESCO a ser realizado na Coreia do Sul, objetivando estabelecer novas metas para melhorar as oportunidades educacionais em nível mundial até 2030. Um dos grandes focos do fórum será discutir a inclusão da tecnologia móvel digital (tablets e smartphones) nas práticas educacionais. A UNESCO lista alguns benefícios da aprendizagem móvel:

-expandir o alcance e a equidade da educação
-facilitar a aprendizagem individualizada
-fornecer retorno e avaliação imediatos
-permitir a aprendizagem a qualquer hora, em qualquer lugar
-assegurar o uso produtivo do tempo em sala de aula
-criar novas comunidades de estudantes
-apoiar a aprendizagem fora da sala de aula
potencializar a aprendizagem sem solução de continuidade
-criar uma ponte enorme de aprendizagem formal e não formal
-minimizar a interrupção educacional em áreas de conflito e desastre
-auxiliar estudantes com deficiências
-melhorar a comunicação e administração
-melhorar a relação custo-eficiência


E também lista diretrizes para a aprendizagem móvel:

-criar ou atualizar políticas referentes à aprendizagem móvel
-treinar professores sobre como avançar a aprendizagem por meio de tecnologias móveis
-fornecer apoio e formação a professores por meio de tecnologias móveis
-criar e aperfeiçoar conteúdos educacionais para uso em aparelhos móveis
-assegurar a igualdade de gênero para estudantes móveis
-ampliar e melhorar as opções de conetividade, assegurando também a equidade
-desenvolver estratégias para fornecer acesso igual a todos
-promover o uso seguro, responsável e saudável das tecnologias móveis
-usar as tecnologias móveis para melhorar a comunicação e a gestão educacional
-aumentar a conscientização sobre a aprendizagem móvel por meio de advocacia, liderança e diálogo

 Conclui-se, portanto, que a tecnologia na educação não é um modismo ou tendência passageira, mas um assunto que já faz parte da realidade e precisa ser discutido amplamente por educadores, gestores e especialistas em tecnologia educacional.

A presença da tecnologia na escola, porém, ainda é um tema controverso entre educadores, e há muitos desafios a serem vencidos por conta da resistência e falta de letramento digital entre os professores. Cada vez mais há a necessidade de envolver o professor, figura essencial,  nessa transformação. Dados do Cetic (Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação) revelam que no Brasil, por exemplo, apesar de 97% das escolas terem acesso à internet, somente 37% dos alunos a acessam dentro da instituição. A mesma pesquisa revelou também que apenas 6% dos alunos aprenderam a usar computador com um professor, apesar da maioria (87%) dizer que já usaram a internet para trabalhos escolares. 24% dos alunos pesquisados disseram que deslocam o tablet para a escola e 12% deslocam o computador portátil. Quando colocamos todos estes dados em perspectiva, fica claro notar que a internet e a tecnologia já fazem parte do dia-a-dia dos jovens, porém, infelizmente,em muitos casos, da porta da escola para fora.

O uso da tecnologia em sala de aula é algo inevitável e as escolas devem investir em uma pedagogia que ande de mãos dadas com os hábitos do mundo contemporâneo. As novas gerações, consumidoras ávidas de novas tecnologias e abertas à inovações reconhecem a importância que tais elementos tÊm em suas vidas e o impacto que podem ter no cenário escolar. A publicação Juventude Conectada , resultado de uma pesquisa em parceria com a Fundação Telefónica Vivo, Ibope e Universidade de São Paulo (USP) revelou alguns dados interessantes sobre o comportamento e pensamento do jovem na era digital:

47% acham que uso de internet e outras tecnologias de comunicação melhora o relacionamento e a troca de conhecimento entre os alunos
45% afirmam terem aprendido lições úteis para a vida ou para o trabalho na internet e que não aprenderiam no colégio/faculdade
40% dizem que a internet possibilita o acesso ao aprendizado no ritmo, no local e no horário mais adequado às necessidades deles
60% acreditam que é mais fácil fazer trabalhos escolares consultando a internet

Outra pesquisa interessante de ser comentada é a Intel Global Innovation Barometer, realizada com 12 mil pessoas em oito países. 77% dos brasileiros acreditam que a escola e professores devem se apoiar mais na tecnologia para melhorar o sistema educacional, um resultado superior à média mundial, que foi 69%.

Passeando por cada uma das dez disciplinas cursadas no programa de pós-graduação em Inovação em Tecnologias Educacionais, e retomando diferentes leituras, palestras, workshops e discussões ao longo de 2014, fica evidente, para mim, a necessidade de se romper com paradigmas do passado, quando o foco do processo de ensino e aprendizagem era o professor. Com o advento da internet e o avanço das tecnologias digitais e da Web 2.0, o foco passou a ser o aluno, que agora tem a oportunidade de desenvolver a aprendizagem através da colaboração e criação em um grau muito maior.

E o que nós educadores podemos aprender com tantas transformações e dados importantes? Devemos aceitar que a tecnologia invada nossas vidas e práticas pedagógicas de forma massiva e indiscriminada? Existe um limite? A tecnologia é a única solução na Educação? Em um vídeo disponibilizado no Youtube,  André Lemos fala sobre Cibercultura e defende que não podemos ser reféns da tecnologia. Ele explica que botar a tecnologia em sala de aula não vai resolver todos os problemas, o aluno precisa saber problematizar os conteúdos, e isto pode ser feito com ou sem tecnologia. Então quer dizer que não precisamos da tecnologia? Claro que precisamos, mas para transformarmos a maneira como interagimos com o conhecimento e o que fazemos com ele. Antes líamos um livro e guadávamos aquele conhecimento para nós, hoje podemos criticar e compartilhar a informação aprendida escrevendo em blogs, postando vídeos no YouTube, participando de grupos em redes sociais, etc.  Segundo Silva (2013), "em tempos de digitalização, é inegável que não é mais o professor quem determina o caminho e como as pessoas devem aprender. A comunicação entre indivíduos divide espaço agora com a possibilidade de trocas coletivas e em larga escala; interação e interatividade tornam possível o fato de que cada pessoa possa ser um agente ativo da informação e do conhecimento. " Portanto, é essencial que gestores e demais profissionais envolvidos com a Educação passem a experimentar essa forma digital de se relacionar com o mundo para, assim, descobrirem maneiras eficazes de incorporar a tecnologia nas práticas pedagógicas no cotidiano escolar.

Para quem apostava que a figura do professor seria descartável no futuro está redondamente enganado. Hoje e no futuro, um professor bem preparado faz e fará toda a diferença. O professor da escola do século 21 terá um papel de curador de conteúdos e moderador  de processos educacionais. Muito da crise que está instaurada na escola hoje vem da ideia, segundo Mario Sergio Cortella, em uma entrevista concedida ao Estadão, de que ensinamos no modelo do século 19, somos professores do século 20 e nossos alunos são pessoas do século 21. Neste novo século, a Educação está caminhando para novos modelos de gestão e de avaliação dos alunos. Os dispositivos móveis, juntamente com as redes sociais, estão se tornando ferramentas poderosas de transformação e evolução do conhecimento e comunicação. A gamificação tem o potencial de adequar rotinas escolares aos hábiltos das novas gerações, tornando a escola um ambiente mais atraente e estimulante. com um design de curso bem elaborado e uma docência voltada para a colaboração e a conectividade, a escola poderá verdadeiramente se tornar um lugar que transforma e prepara o ser humano para exercer sua cidadania de forma plena na sociedade.

Concluindo, gostaria de dizer que esta pós-graduação em Inovação em Tecnologias Educacionais me ajudou a despertar e a desenvolver habilidades essenciais para o educador do futuro e abriu meus olhos para tantas questões importantes que precisam ser discutidas. Para mim, ficou claro que a tecnologia não é o fim, mas sim o meio. Além disso, aprendi que tecnologia não significa inovação, e inovação não significa usar tecnologia. A questão vai além disso e envolve muito mais uma quebra de paradigmas e uma nova abordagem metodológica. Se eu voltasse à pergunta que havia feito no começo da minha jornada, diria que não sei de forma clara qual o futuro da Educação, porém descobri quais caminhos tomar para chegar cada vez mais perto de todas as respostas. Se esta pós-graduação fosse um jogo, não diria que cheguei ao final e agora é "game over". Completei, na verdade, um ciclo, uma etapa, e agora estou pronto para passar para uma nova fase, um novo nível, com mais desafios e descobertas. Gosto de uma frase do professor Moran, que sintetiza de forma objetiva a nova relação entre a tecnologia, o professor e a escola:



Obrigado a todos os professores por me ajudarem a trilhar o meu percurso. Este não é o fim, mas sim o começo. Agora me sinto um educador do século 21, pronto para encarar desafios e contribuir com a evolução da Educação!


Referências deste blog post:
Cetic
Fundação Telefônica
Intel Research: Global Innovation Barometer
O que é Cibercultura? 
Suplemento especial do Correio Braziliense do dia 25 de outubro de 2014
Silva, R. Gestão de EAD- educação a distância na era digital. São Paulo:Novatec, 2013.
UNESCO Policy Guidelines for Mobile Learning

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